Notebook Press

Notebooks, notícias e novidades

ENTREVISTA com Marco Quatorze


 

Depois de mais de um ano vivendo no México, o ex-diretor de serviços de valor agregado (SVA) da Claro e hoje responsável por essa função para todo o grupo América Móvil, Marco Quatorze, retornou ao Brasil para participar da oitava edição do Tela Viva Móvel, realizada em maio por TELETIME e TELA VIVA.
Quatorze apontou as principais diferenças entre os países latino-americanos no que concerne o consumo de SVA e anunciou uma meta: tornar a América Móvil um dos maiores provedores de banda larga da América Latina dentro de cinco anos.
Aproveitando a experiência da Telmex com a venda de computadores no México e o know-how da América Móvil no modelo pré-pago de telefonia celular, o grupo inicia a oferta de netbooks e pretende levar a comercialização de banda larga móvel pré-paga para todos os países onde opera até o final deste ano. Leia mais detalhes sobre essa estratégia nesta entrevista exclusiva à TELETIME.
TELETIME - O senhor afirma que dentro de cinco anos as operadoras celulares terão a liderança do mercado de banda larga na América Latina. Sabendo que o preço do acesso móvel é hoje mais caro que o acesso via ADSL ou a cabo e considerando que as redes físicas oferecem velocidades mais altas, como as operadoras celulares conquistarão essa liderança?
Marco Quatorze - Se fizer um paralelo com o serviço de voz, você verá que o minuto na telefonia móvel é mais caro que o minuto na telefonia fixa. E hoje há mais celulares do que telefones fixos. Isso acontece porque o telefone móvel é um acesso individual e porque ele oferece um modelo de pagamento não disponível na telefonia fixa: o pré-pago. Essa forma de cobrança obteve muito êxito na América Latina. 80% dos terminais móveis na região são pré-pagos. A América Móvil sabe trabalhar esse modelo pré-pago.
Sabemos fazer o pré-pago ser rentável, o que não é fácil. E a gente acha que pode trilhar na banda larga o mesmo caminho trilhado na telefonia celular. Vale lembrar que na América Latina o acesso via WiFi é muito limitado.
E via ADSL também. Banda larga móvel no Brasil já tem mais de um milhão de assinantes, somando todas as operadoras celulares. Quando for lançada para valer a modalidade pré-paga, eu acho que vai explodir o número de usuários. A penetração de computadores está crescendo mais do que o acesso à Internet. E a gente tem certeza absoluta de que a telefonia celular pode atender essa demanda.
Quanto à questão da velocidade, aquela oferecida pelas redes 3G é superior à média oferecida pela telefonia fixa ou por outros meios. A média na América Latina é de 500 kbps. A telefonia celular oferece 1 Mbps. É verdade que ela não é uma rede tão estável, mas te dá mobilidade. Eu acho que essa nossa meta é completamente factível por causa de dois fatores: prépago e cobertura. A telefonia móvel consegue chegar a lugares onde a banda larga fixa não chega e não vai chegar tão cedo.
TELETIME - Em quais subsidiárias da América Móvil já existe oferta de banda larga 3G em planos pré-pagos?
Dos 18 países onde operamos, isso está disponível em oito. E estará em todos os outros até o final do ano, inclusive no Brasil. No México, hoje, a base de usuários pré-pagos de banda larga móvel já é maior que a de assinantes pós-pagos. A participação de pré-pagos é de 60%.
TELETIME - A tendência é que a proporção entre usuários pós e pré de banda larga móvel seja a mesma que vemos nos serviços de voz?
Acho que sim. No México, por exemplo, a participação de pré-pagos na banda larga móvel tende a ser de 90%, tal como nos serviços de voz.
TELETIME - Na Europa, muitas operadoras estão vendendo netbooks, além de laptops com sim cards embarcados. Qual é a estratégia da América Móvil para esses dois produtos?
Vamos vender netbooks. No México e no Chile já vendemos. No Brasil ainda estamos apenas nos notebooks.
Mas vamos vender netbooks em todas as operações da América Móvil.
Estamos fechando o modelo disso. O netbook tem um custo aproximado de US$ 400. No Brasil, sai um pouco mais caro por causa da estrutura de tributação.
Hoje, tem telefone celular que custa mais que isso, como o iPhone ou o Blackberry Bold. O netbook é interessante porque está na mesma faixa de preço de um celular. E isso a gente sabe vender. A gente sabe subsidiar, botar na cadeia de distribuição etc.
Quanto a sim card embarcado em laptop, é uma questão em discussão.
Existem alguns pilotos, mas a taxa de ativação dos clientes desses sim cards embarcados é muito pequena, abaixo de 5%. Economicamente a conta não fecha ainda. Mas é algo que vai dar certo no futuro. Estamos conversando com a HP, com a Dell. A venda de netbooks vai se popularizar antes. Até porque a Telmex é hoje o maior vendedor de computadores do México. Ela vende o PC junto com acesso ADSL e te dá financiamento.
TELETIME - As operadoras móveis brasileiras alertam que vai faltar espectro em um futuro próximo nas áreas de maior concentração de tráfego, como São Paulo. Isso não seria um obstáculo para o crescimento de banda larga móvel não somente no Brasil, mas em toda a América Latina como um todo?
A América Móvil vive uma situação menos crítica, porque temos a faixa de 850 MHz, que era do TDMA e que agora está quase livre. Temos um pouco mais de tempo que os concorrentes, mas o problema existe.
Dependemos do governo botar em licitação mais licenças, o que é plenamente possível. Tem espaço em 900 MHz e 1,9 GHz. Há faixas mais elevadas também. É preciso que as operadoras falem com os governos para que se coloque mais espectro à disposição.
Eu acho que isso vai acontecer. Quando tínhamos apenas a faixa de 850 MHz, se dizia que quando chegássemos a 50% de penetração não haveria mais frequência. Aí abriram a faixa de 1,8 GHz. Depois se abriu a faixa de 2,1 GHz. É só não dormir no ponto. Existe tecnologia. É só não ficarmos mais tão presos à burocracia.
TELETIME - Qual é a sua opinião sobre a tecnologia WiMAX?
É uma tecnologia adotada pelo nosso grupo. Aqui no Brasil WiMAX ficou com a Embratel e não com a Claro. Em outros países ou a América Móvil ou a Telmex têm essa tecnologia.
O problema é que WiMAX ainda não está maduro. Está caro. Hoje, se compra um modem 3G por US$ 40.
WiMAX está na faixa de US$ 300. É uma tecnologia interessante mas que precisa amadurecer.
WiMAX não te dá toda mobilidade, mas te dá mais velocidade. Acho que WiMAX e 3G são complementares e vão coexistir.
Porém, não basta ter tecnologia. Tem que saber vendê-la para o cliente. A América Móvil tem estrutura de distribuição de recarga, tem torres em lugares que até Deus duvida. Não adianta oferecer pré-pago se não tem lugar pra vender recarga. Hoje, comprar recarga é tão fácil quanto comprar cigarro ou cerveja. Tudo isso faz diferença para conseguir chegar ao usuário final. E WiMAX vai levar um tempo para chegar a esse ponto.
TELETIME - Você acredita no WiMAX móvel?
Nesse momento não. Não vi nada com verdadeira mobilidade do WiMAX.
Hoje, WiMAX está mais para WiFi do que para 3G. WiFi era uma tecnologia que todo o mundo dizia que ia cobrir tudo. E não cobriu por diversas razões.
Uma delas é não ter grupos financeiros fortes por trás empurrando. Todo computador vem hoje com WiFi mas o uso não decola porque não tem um grupo oferecendo o serviço em larga escala. Ou é hotspot ou é usado em casa. WiFi é tecnologia interessante mas não ajudou tanto a desenvolver a banda larga nos países emergentes.
TELETIME - Com que velocidade estão caindo os preços dos modems 3G?
Em novembro de 2007, quando a Claro lançou a 3G, o preço de um modem 3G era US$ 150. Hoje, é US$ 60. Fora do Brasil, em países onde a importação é mais aberta, se consegue comprar por US$ 35. A queda foi absurda.
TELETIME - Há espaço para cair mais ainda?
Eu acho que US$ 30 é o limite. Vai ser difícil ficar mais barato.
TELETIME - A América Móvil está presente praticamente na América Latina inteira. Em que países vocês não estão e por quê?
Venezuela, Bolívia, Costa Rica, Haiti e Cuba.
TELETIME - Essa ausência ocorre por conta de questões políticas?
Há países em que a telefonia celular ainda é estatizada. Cuba e Costa Rica, por exemplo, estão abrindo aos poucos. Na Venezuela estávamos entrando quando começaram as reestatizações.
Então, suspendemos os planos. Foi o mesmo caso na Bolívia.
Portanto, são razões mais políticas do que econômicas. Vale destacar que acabamos de entrar no Panamá e na Jamaica. A nossa intenção é operar em toda a América Latina e no Caribe.
Muita gente não sabe, mas atuamos também nos EUA, com uma operadora virtual chamada Tracfone, que trabalha com pré-pago e tem hoje 5 milhões de clientes.
TELETIME - Nunca pensaram em entrar na Espanha, casa da Telefonica?
Não sei. É uma decisão dos acionistas.
Isso está muito acima de mim.
TELETIME - Quais são hoje os mercados mais evoluídos na América Latina em serviços de valor adicionado (SVA) e por quê?
É preciso separar SVA em SMS e outros serviços. Em SMS, os países mais avançados em que a América Móvil atua são Argentina, Uruguai, Equador e México. Lá, o índice de utilização de SMS é muito grande. Para se ter uma idéia, a média de utilização de SMS por cliente é de 150 mensagens por mês na Argentina. No Brasil é da ordem de cinco ou seis SMS/mês.
Não existe uma correlação direta entre o uso de SMS e o consumo de outros SVAs. A gente não encontra essa correlação.
Para os outros SVAs, em quase todos os sentidos, Argentina e Chile são os mais avançados. Isso tem a ver com a penetração de telefonia celular. Esses são os países em que a penetração está próxima ou acima de 100%. Eles estão em outro estágio de desenvolvimento, onde a venda de telefones não é o mais importante. Em mercados com penetração da ordem de 70% ou 80% as operadoras ainda dão muita importância ao crescimento da base de clientes, mais do que à oferta de novos serviços para a base existente. E isso não está errado. É normal. Se você não focar na venda, você perde participação no mercado e o acionista não fica satisfeito. Nesse estágio de crescimento, você tem que ir atrás do cliente. Depois você pode partir para fazer outras coisas. O Brasil ainda está no estágio de crescimento.
TELETIME - Em sua palestra no Tela Viva Móvel, o senhor disse que no Brasil perdemos a chance de popularizar o SMS porque as operadoras não baixaram até hoje o preço para envio de mensagens de texto. E quanto ao MMS: ainda há tempo de popularizá-lo
O MMS não decolou em nenhum lugar do mundo. Não conheço nenhum caso claro de sucesso de MMS. No México registramos 20 milhões de MMS por mês. É um número interessante, mas quando comparado com SMS, que tem 3 bilhões/mês, não é nada. O MMS é difícil de usar. A maioria das pessoas não sabe usar. As pessoas utilizam os telefones mais para tirar foto e carregar no PC do que para mandar para um amigo. O sucesso do MMS não é uma questão de preço ou de publicidade. Acho que o cliente não vê muito valor nele. Não digo que seja zero. Existe um mercado, mas ele é limitado.
TELETIME - O usuário latino-americano é muito sensível a preço. O patrocínio de conteúdo pode ser uma solução para levar SVAs para a grande base de clientes pré-pagos da região?
Conteúdo patrocinado tem potencial.
Mas há uma barreira a ser vencida: os que querem patrocinar dificilmente pagam o valor verdadeiro do conteúdo, o que gera uma limitação.
Nas primeiras iniciativas feitas até agora os clientes não veem muito valor no conteúdo porque não é de alto apelo. Porém, os clientes adoram esse modelo. O potencial é grande.
TELETIME - No México, faz sucesso um serviço de transferência de crédito entre clientes da América Móvil. Vocês registram atualmente 25 milhões de transferências por mês. Existe até um mercado paralelo que usa essa transferência de créditos para o pagamento de diversas coisas. Sabemos que esse mesmo serviço está disponível na Claro brasileira mas pouco se ouve falar dele. Por que ele ainda não é muito utilizado aqui?
Eu não sei. Foi lançado aqui há mais de um ano. Foi feita publicidade, com foco nos clientes pré-pagos, mas não decolou. No Brasil não se cobra comissão. No México se cobra. É um mistério para mim.
TELETIME - Aqui a Claro tem cerca de 25% de participação no mercado. No México, vocês têm 85%.
Não seria essa a razão para não ter dado certo aqui esse serviço, já que ele não permite a transferência de crédito para usuários de outras operadoras?
Talvez você tenha razão. Eu nem tinha pensado nisso. A utilização aqui no Brasil não é um quarto do que é no México. O efeito de rede não foi criado aqui talvez por causa do market share menor.
TELETIME - Outra diferença entre Brasil e México é que o cliente pré-pago brasileiro não faz muitas recargas...
A Claro no Brasil tem 40 milhões de clientes. No México são 60 milhões.
A quantidade de recargas no México é cinco vezes maior que no Brasil. Eu me pergunto se tudo isso não está ligado ao MOU (média de minutos usados por mês por usuário) e à tarifa de telefonia celular que temos aqui, que é muito alta por causa dos tributos.
O MOU do Brasil é um dos mais baixos do mundo. E o ARPU (receita média por usuário) não é o mais baixo: na verdade, está na média de países com a mesma renda per capita.
O problema é que não dá para baixar a tarifa porque o custo é absur do. Não é só imposto direto, mas também indireto: taxa de ativação de cliente, taxa anual de manutenção de cliente, etc. Vários serviços acabam sendo afetados por essa pequena utilização da telefonia celular no Brasil de uma maneira geral.
TELETIME - Você acha que a tecnologia de NFC (Near Field Communications) tem futuro na América Latina?
Para fazer pagamentos rápidos, o NFC é extremamente apropriado.
Você não pode estar na fila do metrô e precisar mandar um SMS para poder passar na roleta: não é ágil o suficiente. O NFC, por outro lado, é rápido e eficiente. Na Ásia existe um modelo em que as operadoras participam da receita de alguma forma nesses serviços. E as operadoras da Ásia controlam muito mais o telefone celular, o hardware, do que a gente aqui.
Hoje, na América Latina, não tem nenhum telefone com NFC. É tecnologia fantástica. Mas para decolar por aqui tem que ter um claro modelo de negócios para as operadoras, o que não existe hoje.
TELETIME - E as vendas de full tracks?
Estão estáveis, mas uma hora vão cair. Porém, surgem novos modelos de música nesse momento. Um que acabamos de lançar no México é o Nokia Comes With Music. O cliente compra um telefone e pode baixar no celular ou em um PC quantas músicas quiser durante um ano. O custo está incluído no preço inicial do telefone. É tudo com DRM. No PC você precisa usar um player especial. O cliente paga uma vez e tem a música durante um ano. A gente acabou de lançar, faz um mês e meio. Os primeiros resultados estão bem interessantes. Os clientes estão gostando muito.
TELETIME - Com o avanço dos browsers dos celulares e com a melhoria da velocidade das redes, os usuários passam a acessar a Internet tradicional na telinha dos telefones móveis.
Muito do que hoje é vendido via download pelas operadoras pode ser encontrado de graça na Internet: músicas, fotos, vídeos etc. O quanto esse avanço da navegação móvel pode afetar a venda de conteúdo para download pelas operadoras no futuro?
É uma pergunta bastante interessante que eu mesmo me faço muitas vezes. Várias empresas buscam a gente porque o modelo na telefonia celular é de o cliente pagar pelo conteúdo.
Na Internet muitas companhias enfrentam problemas porque não têm como cobrar. Usar cartão de crédito na Internet é uma barreira, devido à questão da segurança. E mesmo se você vence essa barreira, tem o problema da quantidade baixa de pessoas com cartão de crédito na América Latina. Na telefonia celular existe um modelo de cobrança. Acho que a Internet no celular vai ter um modelo diferente da Internet aberta.
Acho que haverá convivência de conteúdo premium, que será pago pela conta da operadora celular, sem a barreira do cartão de crédito, e o conteúdo aberto. E haverá também o conteúdo patrocinado. Será uma combinação desses três modelos. O conteúdo premium sempre vai existir.

Related Posts with Thumbnails

On Twitter

Notebook Press

DICAS INCRÍVEIS

DICAS INCRÍVEIS
TV DE LCD EM OFERTA